
Modelo de gestão terceirizada na saúde pública brasileira levanta denúncias, precariza vínculos e compromete a qualidade do atendimento no SUS.
Artigo escrito por Daniel Trindade
A terceirização da gestão da saúde pública, cada vez mais comum em diversas regiões do Brasil, tem gerado debates intensos entre especialistas, gestores públicos, profissionais da saúde e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). A justificativa mais comum usada por prefeitos e governadores para adotar o modelo de gestão terceirizada é a promessa de maior eficiência, agilidade na contratação de pessoal e economia de recursos. No entanto, na prática, o que se observa em muitos casos são serviços precarizados, falta de transparência, denúncias de corrupção e fragilidade no controle social.
Nesse modelo, o poder público repassa a responsabilidade da administração de hospitais, UPAs e unidades básicas de saúde para organizações sociais (OSs), institutos ou empresas privadas, com a expectativa de que esses entes consigam gerir com mais flexibilidade do que a burocracia estatal permitiria. Contudo, a terceirização da gestão diferente da contratação de serviços pontuais implica entregar a administração completa da saúde pública nas mãos de entidades privadas, o que muitas vezes resulta na perda de autonomia do Estado sobre um dos direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal : o direito à saúde.
Entre os principais impactos negativos da terceirização da saúde está a falta de controle efetivo. Muitas prefeituras e estados têm dificuldade em fiscalizar os contratos firmados com as OSs, que operam com pouca transparência e com regras diferentes das exigidas para a administração direta. Em muitos casos, os planos de trabalho não são cumpridos, as metas são burladas e há superfaturamento de insumos, medicamentos e serviços.
Outro ponto crítico está relacionado à rotatividade e precarização dos vínculos trabalhistas. Os profissionais contratados por meio das organizações sociais muitas vezes enfrentam salários mais baixos, ausência de direitos trabalhistas consolidados, falta de estabilidade e atrasos salariais. Isso compromete diretamente a qualidade do atendimento prestado à população, além de desvalorizar a categoria da saúde pública.
Em diversas cidades onde o modelo foi adotado, surgiram denúncias de desvio de recursos, contratos com indícios de irregularidades e até mesmo investigações por parte do Ministério Público e Tribunais de Contas. A ausência de licitação tradicional, sob o argumento da agilidade na contratação, abre margem para contratações obscuras e politicamente direcionadas.
Além disso, a lógica empresarial traz consigo a busca por metas e resultados financeiros, que muitas vezes entram em conflito com o cuidado humanizado e o atendimento integral exigido pelo SUS. O risco de que o paciente deixe de ser o centro do cuidado para se tornar apenas um “número a ser atendido” se torna real. Nesse cenário, a saúde deixa de ser um direito universal e passa a ser tratada como um negócio.
É importante destacar que, embora algumas experiências com gestão compartilhada ou apoio técnico tenham apresentado bons resultados em locais específicos, o que se critica é a terceirização irrestrita e sem critérios, que transforma um setor essencial em um laboratório de experimentos administrativos. O resultado, quase sempre, recai sobre quem mais precisa : a população mais pobre, que depende exclusivamente do atendimento público.
Diante desses impactos, especialistas defendem o fortalecimento da gestão pública direta, com concursos, valorização profissional, planejamento de longo prazo e controle social efetivo. A solução não está em repassar responsabilidades, mas em qualificar a gestão pública com eficiência, transparência e compromisso com o cidadão.
Terceirizar a gestão da saúde pode parecer um atalho diante da burocracia, mas, quando feito sem critérios e sem fiscalização, torna-se uma armadilha. Ao invés de melhorar o serviço, fragiliza ainda mais um sistema que já enfrenta inúmeros desafios.
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Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"