
Em vez de remédio, receitam dancinha. Em vez de leito, entregam reels. E o povo aplaude o próprio abandono.
Artigo escrito por Daniel Trindade
Em Sinop, a gestão pública parece seguir à risca o velho manual político do “pão e circo”. Só que por aqui, o pão está em falta e o circo virou prioridade absoluta. Enquanto a população agoniza nas filas da saúde, aguarda meses por exames ou morre à espera de regulação na UPA, a prefeitura garante o show : tem reels com dancinha, beijo em público, frases de efeito e promessas embaladas em vídeos bem editados. A cidade virou palco, mas o povo segue sem plateia e sem atendimento.
O Hospital Municipal é o símbolo desse descompasso. Foram R$ 42 milhões gastos na obra, feita com estrutura pré-moldada ao custo estimado de R$ 10 mil por metro quadrado, num total de 4,2 mil m² construídos. Agora, para o hospital funcionar, são necessários mais R$ 33 milhões, sendo R$ 14 milhões prometidos pelo governo do Estado e outros R$ 19 milhões que a gestão ainda não sabe de onde tirar. O hospital contará com apenas 70 leitos, número que mal atende à demanda de uma cidade com mais de 220 mil habitantes, e ainda assim, não será de portas abertas : funcionará por meio de regulação, frustrando a expectativa da população por um atendimento direto em casos de urgência.
Mas o que choca mesmo é a seleção de prioridades. Não tem R$ 33 milhões para abrir um hospital, mas sobram R$ 80 milhões para construir uma nova sede para a prefeitura. Falta estrutura nas escolas, mas já se gastaram mais de R$ 7 milhões com aluguel de tendas. Crianças ainda não receberam uniforme escolar, mas tem R$ 12 milhões para terceirizar o lixo da cidade e sem licitação. E o contrato de terceirização da saúde, que começou em R$ 75 milhões, já ultrapassa R$ 140 milhões em apenas um ano.
A saúde pública afunda. Faltam médicos, exames, remédios e até cadeiras adequadas nas unidades. Há relatos de pacientes em tratamento oncológico esperando meses por regulação, gestantes sendo transferidas às pressas por falta de leito e familiares desabando diante da impotência do sistema. Enquanto isso, o marketing institucional segue firme : vídeos ensaiados, frases prontas e narrativas polidas que tentam encobrir uma dura realidade.
E é aqui que entra a parte mais incômoda : Sinop tem 15 vereadores eleitos para fiscalizar e representar o povo, mas o silêncio de muitos deles é ensurdecedor. Onde estão as vozes indignadas? Onde está a pressão por transparência, planejamento e respeito com o dinheiro público? As entidades de classe, a sociedade organizada, as lideranças religiosas, sindicais, comunitárias, todas têm papel fundamental, mas estão assistindo demais e questionando de menos. E a população, cansada, revoltada, muitas vezes desacreditada, ainda aplaude quem deveria estar sendo cobrado.
É hora de acordar. De sair da plateia. Porque o espetáculo montado por esses palhaços vestidos de políticos só continua de pé enquanto houver aplauso. E por vezes achamos que somos os palhaços mas não : somos o público. E temos o poder de levantar, acender a luz, parar o show e exigir decência no lugar do improviso.
Se essa cidade, se essa cidade fosse minha,
Eu mandava cuidar com carinho todo dia.
Tirava a fila, abria o hospital,
Trocava o marketing por serviço real.
E se sobrasse um pouquinho de atenção,
Botava dignidade no coração.
Mas por enquanto, seguimos assim : sem hospital, sem respeito mas com muita coreografia.
E agora, Sinop?
A obra acabou,
o povo esperou,
o médico faltou,
a fila aumentou…
E agora, Sinop?
(Livre inspiração em Carlos Drummond de Andrade)
O silêncio da sociedade é a plateia perfeita para que o espetáculo do descaso nunca chegue ao fim. Mas todo show só continua enquanto houver quem aplauda.
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Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"