“Em Novo Progresso, a disputa por terras expõe não apenas conflitos de posse, mas a urgente necessidade de equilíbrio entre justiça, legalidade e desenvolvimento sustentável.”
por Daniel Trindade
O embate por terras no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Terra Nossa, em Novo Progresso, sudoeste do Pará, escancara a complexidade das disputas agrárias no Brasil, onde interesses econômicos, ambientais e sociais frequentemente entram em conflito. No centro dessa controvérsia estão os irmãos Ari e Ademar Friedler, que desde 1999 ocupam a área conhecida como Fazenda Hebrom e reivindicam a posse do local. Por outro lado, o terreno também é alvo de ocupações por grupos de famílias sem-terra, que alegam o direito de serem assentadas na área destinada originalmente à reforma agrária.
Os irmãos Friedler defendem que sua presença na Fazenda Hebrom é legítima e que têm atuado dentro da legalidade. Eles afirmam que as acusações de irregularidades ou ações violentas contra os acampados não condizem com a realidade. Desde que assumiram a área, segundo os Friedler, a família busca manter a propriedade produtiva, respeitando as leis ambientais e agrárias. Por meio de seus advogados, a família reforça que aguarda as decisões das autoridades competentes, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Ministério Público Federal (MPF), para trazer estabilidade ao local e resolver os conflitos de maneira justa.
A Fazenda Hebrom foi embargada pelo Ibama em 2008 devido a desmatamentos ilegais praticados por antigos ocupantes, antes da chegada dos Friedler. A família nega ter cometido qualquer infração ambiental e argumenta que tem se esforçado para manter as atividades produtivas de maneira sustentável. Além disso, os Friedler contratam a empresa de segurança Maxford Security, que tem como objetivo evitar confrontos diretos entre as famílias acampadas e os proprietários. Andreilson da Silva Cordeiro, responsável pela segurança, afirmou que sua equipe trabalha para preservar a ordem e garantir a integridade das partes envolvidas, negando qualquer restrição de alimentos, água ou medicamentos aos acampados.
O conflito em questão ocorre em uma região com histórico de disputas violentas por terras. Novo Progresso é um dos municípios da Amazônia que mais enfrenta desafios relacionados ao desmatamento e à grilagem de terras. O PDS Terra Nossa, criado em 2006 para beneficiar famílias sem-terra, é emblemático dessa situação. Embora destinado à reforma agrária, grande parte de seus 150 mil hectares está ocupada por fazendeiros e grileiros, situação que, segundo o Incra, é conhecida há anos, mas que só recentemente começou a ser enfrentada com decisões judiciais.
Os Friedler destacam que confiam no sistema judicial para resolver o impasse e acreditam que o respeito às leis é fundamental para trazer paz e desenvolvimento sustentável à região. O advogado da família, Manoel Malinski, afirma que qualquer decisão precisa considerar o direito de propriedade e a legalidade das ações dos ocupantes. Enquanto isso, a família também tenta preservar suas atividades econômicas na Fazenda Hebrom, enfrentando acusações e tensões que agravam ainda mais a situação no local.
Por outro lado, as famílias acampadas vivem em condições precárias, enfrentando dificuldades de acesso a recursos básicos como água potável e alimentos. Os relatos de ameaças e restrições criam um cenário de tensão, onde a busca por justiça e regularização fundiária se torna cada vez mais urgente. Apesar das acusações, os Friedler reforçam que sua intenção nunca foi agir com violência, mas sim proteger a propriedade e garantir que o conflito seja resolvido de forma pacífica e dentro da lei.
O caso no PDS Terra Nossa é mais do que uma disputa por terras; é um reflexo da realidade agrária brasileira, onde interesses produtivos, ambientais e sociais frequentemente colidem. Para os irmãos Friedler, essa luta vai além de questões de posse: é também sobre garantir a segurança jurídica e o futuro produtivo da região, enquanto aguardam que as autoridades competentes tomem as medidas necessárias para pacificar a situação.
Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"