Daniel Trindade 
Estudantes denunciam duplicidade de ações e falta de transparência na destinação de recursos
O Conselho Universitário da UFMT (CONSUNI) discute o repasse de R$ 1.166.935,00 à Fundação Uniselva para execução do projeto “Estudantes da UFMT: Ações para Redução da Evasão Escolar”, conhecido como EUARE e que foi encaminhado pela Reitoria da UFMT.
A decisão gerou revolta entre estudantes, conselheiros e ex-membros do Diretório Acadêmico da UFMT, que denunciam o uso indevido de recurso público, duplicidade de pesquisas, falta de transparência e ausência de debate democrático.
O projeto foi formalizado por contrato em dezembro de 2024 e prevê o pagamento de R$ 100.788,00 a uma Servidora Docente, que é coordenadora do projeto e integra o núcleo próximo da gestão, além de mais de R$ 892 mil em bolsas e R$ 140 mil em taxa administrativa para a Fundação Uniselva. A principal crítica é que os mesmos objetivos já foram cumpridos em 2023, sem custas para a universidade, conforme artigo publicado em periódico Qualis A1 e painéis públicos da própria pró-reitoria de planejamento e orçamento da universidade.
A UFMT já possui diagnósticos completos sobre evasão e permanência, relatórios estatísticos com mais de 7 mil respostas, painéis interativos com dados qualitativos e quantitativos, além de publicações institucionais com estratégias validadas e aplicadas. “O projeto apenas reedita o que já foi feito e ignora os dados públicos e o conhecimento técnico acumulado na própria UFMT”, afirmam conselheiros do CONSUNI.
Falta de critérios transparentes
O conselheiro relator foi categórico em seu voto: “Chama atenção o valor considerável aportado em um único projeto já tratado em trabalhos anteriores dentro da UFMT. Como garantir a isonomia e a transparência na escolha da coordenação e bolsistas? Essas são perguntas que permanecem sem resposta no processo.”
A ausência de edital público para seleção de bolsistas e coordenação levanta questionamentos sobre possível violação dos princípios da legalidade, impessoalidade e isonomia da gestão pública.
Estudantes também manifestaram indignação: “Enquanto a assistência estudantil sofre cortes, a gestão cria projeto para estudar o que já sabemos e ainda paga bolsa de R$ 1.500,00”, (mais que o dobro do valor praticado com bolsas pelas UFs), disse um representante discente.
Impactos no orçamento universitário
Segundo relatório do CONSUNI, setores essenciais como o ex-Núcleo de Acessibilidade (NAI, que foi desmontado) e o Hospital Universitário ficaram sem previsão orçamentária suficiente, enquanto recursos substanciais foram destinados ao polêmico projeto.
A não constituição da Comissão Mista orçamentária também foi criticada como “quebra de tradição democrática” da universidade, comprometendo a governança participativa que caracterizava a instituição.
Reitoria não se manifesta
Até o momento, a Reitoria não respondeu publicamente aos questionamentos sobre a origem da coordenação, os critérios para concessão de bolsas, a duplicação de estudos nem sobre o uso da Fundação Uniselva como intermediadora. O projeto foi apresentado diretamente ao CONSUNI na tentativa de defender os envolvidos no recebimento das bolsas sem consulta prévia às unidades acadêmicas.
Mobilização por transparência
Diante das irregularidades apontadas, conselheiros pedem revisão do orçamento e suspensão do projeto. Estudantes articulam representação ao Ministério Público Federal e ao Tribunal de Contas da União (TCU). Há também proposta de reorganização da metodologia orçamentária com retorno da Comissão Mista para o ciclo de 2026.
O caso evidencia a necessidade de maior transparência na gestão de recursos públicos universitários adotados pela atual gestão. A destinação de quase R$ 1,2 milhão para “reestudar” questões já documentadas, sem critérios claros e com sobreposição de funções, representa um grave sintoma de fragilidade na gestão ética e democrática da instituição.
A universidade pública deve primar pela transparência, escuta ativa e zelo com cada centavo do dinheiro público. Cabe à comunidade universitária e à sociedade exigir prestação de contas e defender o patrimônio público que a universidade representa.
Contradições na gestão: do PIX emergencial ao milhão liberado
Ironicamente, trata-se da mesma gestão que, meses antes, solicitava doações via PIX da comunidade universitária, alegando não haver recursos para reparos básicos como consertos de telhados, banheiros e ar-condicionado. Em nome da escassez orçamentária, apelou-se ao senso de solidariedade de estudantes, familiares, professores e servidores.
Entretanto, quando o assunto envolve projetos alinhados a interesses político-partidários ou à manutenção de apoiadores em cargos estratégicos, quase R$ 1,2 milhão foram prontamente liberados. Não houve edital, nem consulta ampla à comunidade acadêmica. Mas houve pressa, plano aprovado e execução contratada.
Afinal, quando se trata de conceder bolsas generosas e coordenar iniciativas já prontamente disponíveis nos bancos de dados institucionais, dinheiro aparece. O mesmo não se aplica à assistência estudantil ou à infraestrutura acadêmica.
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Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Consultor Político
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"
