“Sou atacada por buscar recursos federais”, diz prefeita de Várzea Grande

Flávia Moretti afirmou, durante encontro do PL Mulher em Sorriso, que enfrenta violência política e críticas por recorrer a Brasília em defesa do município.

por Daniel Trindade

A prefeita de Várzea Grande (MT), Flávia Moretti (PL), usou o Encontro das Mulheres do PL de Mato Grosso, realizado no sábado (1º) em Sorriso, para denunciar que vem sofrendo perseguição política e ataques pessoais em razão da busca de verbas em Brasília para o município. Em discurso, ela afirmou que é alvo de agressões dentro e fora do ambiente institucional.

“Eu sofro violência na tribuna, na Câmara de Vereadores, por vereadores. Sofro violência nas redes sociais. Me criticam porque eu vou pedir recurso em Brasília, porque a minha cidade é pobre e precisa do recurso do Governo Federal, sim, porque senão eu não transformo vidas. E porque o dinheiro que está lá não é de A, de B ou de C, o dinheiro é nosso, é de todos nós”, disse a prefeita.

Ela também declarou que a pressão se estende à família e citou episódios de violência política de gênero, dizendo que mulheres, especialmente mulheres de direita, são atacadas quando ocupam espaços de poder.

Flávia Moretti defendeu que buscar apoio financeiro junto ao Governo Federal faz parte da função de prefeita e que a cidade depende desses investimentos para executar obras de infraestrutura e para segurar a rede de saúde pública. A prefeita iniciou o mandato em 1º de janeiro de 2025 e, ao longo do ano, tem apresentado projetos e cobrado repasses para Várzea Grande, afirmando que o município enfrenta limitações orçamentárias e demandas históricas de pavimentação, saneamento e abastecimento de água.

Em reunião recente com a bancada federal de Mato Grosso, a prefeita apresentou um pacote de obras estruturantes estimado em mais de R$ 200 milhões para Várzea Grande. O conjunto inclui pavimentação e drenagem em bairros em processo de regularização fundiária por meio do programa Pavimenta Mais, orçado inicialmente entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões; a retomada e conclusão da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Santa Maria, cujo investimento total é de cerca de R$ 83 milhões e exige contrapartida municipal de R$ 15 milhões; além do projeto de orla e anel viário do aeroporto, estimado em R$ 40 milhões para mobilidade urbana. A prefeita também pediu a ampliação do teto de Média e Alta Complexidade (MAC) do SUS pago à cidade, dos atuais cerca de R$ 3,7 milhões por mês para aproximadamente R$ 40 milhões mensais, alegando que o volume de atendimento de Várzea Grande já ultrapassa a capacidade hoje financiada.

No discurso político, ela associou essas demandas a uma agenda de defesa da presença feminina em cargos de decisão. Ao lado de Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama e presidente nacional do PL Mulher, Flávia afirmou que “mudar uma nação também é colocar a mulher na política”, defendeu mais mulheres como vereadoras e deputadas e citou que sofre ataques quando reivindica recursos federais.

A prefeita vem sustentando publicamente que a cobrança pessoal contra ela, tanto na tribuna quanto nas redes sociais, tem caráter de violência política de gênero e que esse processo impacta sua família e sua imagem. Esse posicionamento já havia aparecido em outras agendas institucionais do município, quando a prefeita organizou atos contra violência política direcionada a mulheres e defendeu que a administração municipal de Várzea Grande tem maioria feminina em cargos de comando.

Levantamento feito pela redação indica que, durante 2025, Várzea Grande já recebeu e/ou teve confirmados recursos e ações com participação direta do Governo Federal em diferentes frentes. Um dos principais e mais visíveis repasses federais do ano foi na área de habitação popular. No dia 30 de outubro de 2025, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, esteve na Baixada Cuiabana representando o Governo Federal e participou da entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida. Segundo o Ministério, foram entregues 460 moradias em Várzea Grande  incluindo os residenciais Chapada das Cerejeiras, Parque Hollywood e Parque Hollywood II, no bairro Costa Verde destinadas a famílias de baixa renda que aguardavam pela casa própria. Essas unidades fazem parte do programa federal de habitação subsidiada, em que o governo entra tanto com subsídio direto na entrada quanto com subsídio de juros para reduzir a parcela e permitir financiamento abaixo do preço médio de aluguel.

Além da habitação, há recursos federais vinculados a obras de saneamento e infraestrutura que, segundo a própria prefeitura e a bancada, já estão reservados ou em fase de liberação técnica via Caixa Econômica Federal, que opera como agente financeiro da União. A prefeita defende que a ETE Santa Maria  também citada como ETE Costa Verde/Santa Maria  é estratégica para ampliar coleta e tratamento de esgoto em Várzea Grande e que depende de repasses federais já pactuados, mas que necessitam de contrapartida municipal para avançar. Esse empreendimento é apontado pela gestão como essencial para o equilíbrio ambiental e para a capacidade de expansão urbana da cidade.

No campo das emendas e transferências, a administração municipal afirma que Várzea Grande recebeu apenas cerca de R$ 3 milhões em emendas parlamentares em 2025, número que a prefeita considera insuficiente diante do porte do município, e alega que o patamar foi muito menor que no ano anterior, quando o volume total de emendas e convênios teria superado R$ 90 milhões. Já vozes da bancada federal contestam a narrativa de escassez.

O senador Jayme Campos (União Brasil) declarou que tem encaminhado recursos e citou que aproximadamente R$ 4 milhões já foram destinados ao município, com mais cerca de R$ 2 milhões previstos para liberação em seguida. O senador também afirmou que existem R$ 22,5 milhões empenhados e parados na Caixa aguardando apenas projetos executivos da prefeitura para que as obras possam ser executadas, além de mencionar uma operação de crédito autorizada na ordem de R$ 140 milhões. Para ele, portanto, não faltam repasses; o que falta é execução dos projetos e planejamento da atual gestão.

Carlos Fávaro, que hoje ocupa o cargo de ministro da Agricultura e Pecuária e atua como uma das principais pontes políticas do governo federal em Mato Grosso, tem repetido em agendas públicas que a atuação conjunta entre União, Estado e prefeituras é o caminho para levar políticas sociais ao município. Ao entregar as moradias populares em Cuiabá e Várzea Grande, Fávaro afirmou que o objetivo é “mudar a realidade das famílias” por meio de subsídio federal direto e juros reduzidos, e destacou que o governo federal está colocando recursos para garantir que a parcela da casa própria fique mais barata que o aluguel. Ele também vem defendendo a continuidade de ações voltadas à agricultura familiar e à infraestrutura urbana na Baixada Cuiabana, como parte de um pacote de integração entre governo federal, governo estadual e prefeituras.

No cenário político, Flávia Moretti argumenta que, apesar desses anúncios e reservas, Várzea Grande ainda precisa “destravar dinheiro” para transformar projetos em obra entregue, citando pavimentação de bairros em regularização fundiária, ampliação do sistema de esgoto e reforço da infraestrutura viária próxima ao aeroporto municipal. Ao mesmo tempo, ela associa a pressão que sofre  na Câmara Municipal, nas redes sociais e de adversários regionais a uma tentativa de deslegitimar a busca de financiamento federal para um município que, segundo suas palavras, “é pobre e precisa do recurso do Governo Federal”. Para a prefeita, essas críticas fazem parte de um processo de violência política, com recorte de gênero, que tenta desestimular mulheres a disputar e exercer poder local.

Ao colocar o tema dessa forma, a prefeita de Várzea Grande tenta consolidar duas narrativas que caminham juntas em 2025: a de que o município depende objetivamente de Brasília para viabilizar obras de infraestrutura, saneamento, mobilidade, saúde e habitação, e a de que essa dependência financeira tem custo político direto sobre ela, exposta a acusações de adversários e a ataques pessoais justamente quando cobra e negocia recursos com o Governo Federal e com a bancada de Mato Grosso.

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Daniel Trindade

Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Consultor Político
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"