
Entre fake news, recortes de redes sociais e verdades fabricadas, cresce o perigo de uma sociedade que acredita mais no que viraliza do que no que é verdadeiro.
por Daniel Trindade
“Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”
A frase atribuída a Nelson Rodrigues soa como uma profecia sobre o tempo em que vivemos. O dramaturgo, conhecido por sua ironia e olhar agudo sobre o comportamento humano, parece ter antecipado a era em que a opinião se sobrepõe aos fatos e a convicção pessoal vale mais do que a verdade.
No Brasil e em boa parte do mundo vivemos uma epidemia de certezas rasas. As redes sociais, que deveriam aproximar pessoas e democratizar o acesso à informação, tornaram-se o grande palco da desinformação. Hoje, milhões formam suas convicções políticas a partir de recortes de vídeos descontextualizados, prints de conversas e mensagens de grupos de aplicativos, sem checar a fonte, o autor ou a veracidade do conteúdo.
O fenômeno é perigoso porque transforma o debate público em um campo minado de achismos, fake news e manipulações emocionais. A reflexão dá lugar ao impulso, e o diálogo é substituído pela agressividade. A cada nova eleição, vê-se crescer o número dos que votam movidos por boatos, medos e narrativas fabricadas um cenário que fragiliza a democracia e fortalece o autoritarismo.
O “idiota” de que falava Nelson Rodrigues não é o tolo, mas o indiferente, o que abdica do pensamento crítico. É aquele que prefere o conforto das respostas prontas à complexidade da realidade. Ele não lê, não pesquisa, não questiona apenas compartilha. E, ao fazer isso, ajuda a consolidar a hegemonia da ignorância.
A tecnologia ampliou o poder da desinformação, mas também revelou um traço antigo: a preguiça de pensar. Hoje, bastam poucos segundos de um vídeo para moldar opiniões sobre economia, política ou ciência. O problema é que, quando a quantidade se sobrepõe à qualidade, a verdade passa a ser decidida pelo volume de curtidas, não pela força dos argumentos.
O papel do jornalismo, da educação e da cidadania crítica é justamente romper esse ciclo. Pensar deixou de ser luxo virou resistência. É preciso voltar a duvidar, a confrontar dados, a buscar fontes confiáveis e a ler antes de repetir. Nenhum país evolui quando a desinformação governa a consciência coletiva.
“Os idiotas vão dominar o mundo”, dizia Nelson Rodrigues. O que ele talvez não imaginasse é que o domínio viria em rede, em tempo real, com milhões de vozes repetindo as mesmas falácias, acreditando que têm opinião própria. O antídoto para isso é simples, mas exige esforço: educação, leitura e senso crítico. Só assim o mundo continuará nas mãos dos que pensam e não dos que apenas replicam.
Como disse Rui Barbosa, em palavras que ecoam com precisão neste tempo de ruídos e superficialidade:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
Que a lucidez, o conhecimento e a coragem de pensar voltem a ser o ideal coletivo antes que a profecia se torne permanente.
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Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Consultor Político
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"