
A luta dos povos indígenas do primeiro dia da invasão portuguesa até a COP30 mostra que o país ainda não acertou contas com seu passado.
por Daniel Trindade
O Brasil insiste em contar uma história suave sobre si mesmo. Ainda se repete, nas escolas e nos discursos oficiais, que o país começou com um encontro amigável entre portugueses e povos indígenas. Mas a verdade é outra: o Brasil nasceu de violência, tomada de terras, epidemias, escravização e mortes em massa. A história real não é um retrato bonito é um alerta que continua vivo até hoje.
Quando os portugueses chegaram, milhões de indígenas já viviam aqui, com suas culturas, idiomas, saberes e formas de viver em equilíbrio com a natureza. Não havia vazio, não havia atraso. Havia sociedades completas. O que veio depois foi invasão : aldeias queimadas, povos expulsos de seus territórios, guerras longas como a Confederação dos Tamoios, ataques como os que quase exterminaram os potiguaras e aimorés, além da escravização de milhares de indígenas e mais de cinco milhões de africanos trazidos à força.
Essa violência não ficou presa nos livros de história. Ela atravessou séculos. Continuou nas frentes de expansão agrícola, nos ciclos do garimpo, nos projetos que ignoraram os povos nativos e trataram a floresta como mercadoria. Continuou nos assassinatos de lideranças, nas invasões de terras e na tentativa constante de calar quem representa a raiz mais antiga do território brasileiro.
E agora, na COP30 em Belém, essa mesma história reaparece só mudam as palavras, os crachás e as mesas de negociação.
Povos indígenas de várias regiões viajaram dias para chegar à capital paraense. Vieram em barcos simples, vindos dos rios, como sempre fizeram. Vieram cantando, pintados, trazendo seus símbolos e suas lideranças. Vieram porque sabem que a Amazônia está perto de um ponto de não retorno e porque suas terras que são as mais preservadas continuam sendo ameaçadas por interesses econômicos que repetem a lógica colonial.
Mas, mesmo chegando em peso, foram deixados de fora do centro das decisões. Dos 2.500 indígenas que estiveram em Belém, só uma parte pequena conseguiu entrar na área onde as decisões mais importantes acontecem. É o velho padrão: o Brasil elogia os povos indígenas, mas não lhes dá espaço real de poder.
A resposta veio nas ruas. Barcos se juntaram na Baía do Guajará em um grande ato. Passeatas se formaram em frente aos portões da COP30. Houve empurra-empurra com seguranças, fechamentos de entrada e protestos diários. Os cantos e gritos lembravam ao Brasil que a luta indígena não começou ontem : começou no momento em que o primeiro europeu pisou aqui e tentou apagar quem já vivia neste território.
As reivindicações também não são novidades. Eles pedem o que pedem há séculos : respeito às terras, proteção dos rios, fim do garimpo ilegal, direito de serem consultados antes de decisões que afetam suas vidas. E pedem, sobretudo, algo muito simples : serem ouvidos de verdade.
A ciência confirma o que os indígenas sempre disseram. As áreas demarcadas são as regiões mais preservadas da Amazônia. Onde há território indígena protegido, há floresta viva. Mas o reconhecimento científico ainda não virou atitude política. A COP30 mostra isso de forma clara.
O Brasil quer se apresentar ao mundo como líder climático, mas ainda hesita em enfrentar sua história. Não basta falar em sustentabilidade enquanto se empurra para fora da sala quem mais entende de floresta. Não existe futuro para a Amazônia sem os povos que a defendem há milhares de anos. E não existe futuro climático para o Brasil se continuarmos repetindo, com outros nomes, as mesmas violências que começaram em 1500.
Os povos indígenas não são passado. São presente. E sem eles, o país não terá futuro.
Se o Brasil quer ser exemplo no combate à crise climática, precisa parar de fingir que sua história não é feita de sangue e começar, finalmente, a escrever um capítulo diferente.

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Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Consultor Político
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"







