
por Daniel Trindade
“Halloween no Brasil : uma noite de diversão para uns, uma invasão cultural para outros.”
No dia 31 de outubro, o Halloween volta a dividir opiniões no Brasil. Enquanto muitos veem na data uma oportunidade de diversão, integração cultural e até de lucro para o comércio, outros a enxergam como uma invasão cultural e uma ameaça às tradições religiosas e culturais nacionais. A controvérsia cresce quando as religiões entram no debate, especialmente com o posicionamento crítico da Igreja Católica e de outros grupos religiosos, que veem na celebração uma deturpação de valores e uma perigosa banalização de temas espirituais.
A Igreja Católica e alguns grupos evangélicos argumentam que o Halloween, com sua abordagem de temas como o sobrenatural e a “festa dos mortos”, é incompatível com os valores cristãos e até desrespeitoso. Para eles, o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados, que ocorrem nos dias 1º e 2 de novembro, são datas que reverenciam a memória dos falecidos de maneira respeitosa e espiritual, diferentemente do Halloween, que trata de figuras como bruxas, demônios e fantasmas de forma lúdica. A Igreja Católica, em especial, alerta que o Halloween pode trivializar o mundo espiritual e até incentivar as crianças a brincarem com temas considerados sagrados e sérios na doutrina cristã.
Alguns líderes religiosos destacam que o Halloween, ao promover ícones sombrios e personagens como bruxas e demônios, está desvirtuando valores cristãos. A celebração é vista como uma banalização da espiritualidade, especialmente para as crianças, que são expostas a símbolos e imagens que, segundo a doutrina católica, carregam significados negativos. Além disso, para muitos católicos, a aproximação entre Halloween e o Dia de Finados é preocupante, pois sentem que o Halloween pode obscurecer a reverência e o respeito tradicionalmente associados à memória dos falecidos.
Grupos evangélicos também criticam o Halloween e sua crescente popularidade no Brasil, argumentando que a celebração incentiva práticas que vão contra o ensinamento cristão. Para eles, o envolvimento com personagens como fantasmas e espíritos pode abrir portas para um interesse em ocultismo e bruxaria, práticas que a Bíblia condena explicitamente. Muitos líderes religiosos sugerem que, ao invés de celebrar o Halloween, escolas e famílias cristãs promovam eventos alternativos que reforcem valores e símbolos da fé.
O posicionamento da Igreja Católica e de outras instituições religiosas amplia ainda mais o debate sobre o Halloween e seu papel no Brasil. Para uns, trata-se apenas de uma celebração cultural importada e divertida, sem maiores consequências. Para outros, é uma ameaça à cultura brasileira e uma banalização de temas religiosos. No final, o Halloween traz à tona a questão: até que ponto o Brasil deve adotar tradições estrangeiras sem considerar seu impacto cultural e espiritual?
Onde Surgiu?
O Halloween tem origens antigas e complexas, remontando às celebrações dos povos celtas, que viviam na região onde hoje é a Irlanda, o Reino Unido e o norte da França. Há cerca de 2.000 anos, esses povos celebravam o festival de Samhain (pronuncia-se “sôu-in”) na noite de 31 de outubro, marcando o fim do verão e o início de um período mais escuro e frio. Segundo as crenças celtas, na noite de Samhain, o véu entre o mundo dos vivos e dos mortos se tornava mais tênue, permitindo que os espíritos retornassem à Terra. Para afastar os espíritos malévolos, os celtas usavam máscaras e fantasias, acendiam fogueiras e deixavam oferendas de comida e bebida.
Com o avanço do Cristianismo, a Igreja Católica começou a substituir festas pagãs por celebrações cristãs. No século VIII, o Papa Gregório III estabeleceu o Dia de Todos os Santos em 1º de novembro, para honrar todos os santos e mártires. Assim, a véspera, 31 de outubro, passou a ser chamada de All Hallows’ Eve (Véspera de Todos os Santos), que, com o tempo, se tornou “Halloween”. Esta tentativa da Igreja de cristianizar o Samhain, porém, não eliminou completamente as antigas práticas, que se mesclaram às novas tradições.
Quando os irlandeses imigraram para os Estados Unidos durante o século XIX, levaram consigo as tradições do Halloween, que acabaram ganhando popularidade na América do Norte. Foi nos Estados Unidos que a data se transformou no que conhecemos hoje, com crianças fantasiadas pedindo “doces ou travessuras” e o uso de abóboras esculpidas como Jack-o’-lanterns.
No Brasil, o Halloween começou a ganhar espaço a partir dos anos 90, com a popularização das mídias norte-americanas e eventos em escolas de inglês, que passaram a celebrar a data como forma de difusão cultural. Com o tempo, a festa se consolidou em escolas, shoppings e festas temáticas, especialmente nas grandes cidades, gerando debates sobre sua influência no contexto cultural e religioso brasileiro.
Qual a Opinão das Pessoas Sobre?
A opinião da população brasileira sobre o Halloween é bastante dividida. Muitos brasileiros, especialmente jovens e crianças, adoram a ideia de se fantasiar, participar de festas temáticas e se envolver na brincadeira de “doces ou travessuras”. Para eles, o Halloween é uma celebração divertida, que representa uma oportunidade de diversão e criatividade. Além disso, para quem vive em áreas urbanas e próximas à cultura norte-americana, a data tem sido acolhida como um evento de entretenimento que permite experimentar uma nova cultura, sem necessariamente abandonar as tradições brasileiras.
Por outro lado, uma parcela significativa da população, incluindo pessoas mais conservadoras e religiosas, critica o Halloween. Esses grupos veem a celebração como uma invasão cultural, que não faz parte da nossa identidade e que até pode desviar a atenção de datas e personagens do folclore nacional, como o Dia do Saci, promovido em 31 de outubro para valorizar figuras como o próprio Saci, a Cuca e outros seres míticos brasileiros. Além disso, algumas pessoas, especialmente ligadas a tradições católicas e evangélicas, têm uma visão negativa do Halloween, associando-o a temas que vão contra suas crenças, como figuras de bruxas, demônios e elementos sombrios.
Outros brasileiros, por sua vez, têm uma visão mais neutra e prática sobre o tema. Para eles, o Halloween é apenas mais uma data comercial, impulsionada por empresas de festas, comércio de fantasias e escolas de inglês. Esse grupo enxerga a data como um motivo para o consumo, mas que não afeta de maneira significativa a cultura brasileira. Embora algumas escolas e shoppings promovam eventos de Halloween, eles acreditam que isso não interfere no gosto pela cultura nacional.
A opinião geral, portanto, é diversa: enquanto alguns acolhem a festa como uma adição divertida ao calendário, outros a rejeitam como uma interferência cultural ou uma data que contradiz seus valores religiosos. De qualquer forma, a presença do Halloween no Brasil parece estar se consolidando ano após ano, mesmo com o debate em torno da sua aceitação e do impacto cultural no país.

Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"