
Ao negar o que disse meses antes, governador amplia a percepção de contradição, gera ruído entre aliados e se distancia do eleitorado de direita.
por Daniel Trindade
Às vésperas da definição eleitoral de 2026, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), acumula movimentos que expõem um cálculo político em constante oscilação e que, cada vez mais, produzem desgaste. Entre admitir publicamente que poderia disputar o Senado e, dias depois, negar que tenha dito isso, o governador também alterna elogios e críticas a Lula e Bolsonaro conforme o ambiente. A estratégia, que antes parecia garantir flexibilidade, agora alimenta uma percepção crescente de contradição e fragilidade política.
A primeira ruptura está na própria candidatura. Em entrevista ao Broadcast da Agência Estado, Mendes afirmou que analisava deixar o governo em abril para concorrer ao Senado, citando inclusive que poderia “aspirar algum cargo disponível em 2026”, mencionando, “provavelmente, a senador”. A fala foi interpretada como um sinal claro de que a campanha já estava no horizonte.
No entanto, após repercussões negativas e pressões internas, o governador recuou:
“Nunca falei que sou candidato. Como vou seguir em algo que eu nunca anunciei que sou?”
A fala contradiz diretamente sua admissão anterior e surpreendeu até aliados próximos, que já tratavam o projeto eleitoral como praticamente definido. Esse recuo reforçou a imagem de indefinição e improviso.
No cenário nacional, o padrão se repete. Em 2024, ao lado de Lula, Mendes elogiou o presidente ao classificá-lo como alguém que “age como estadista”, declarando admiração pela postura do petista. Em contrapartida, em outros momentos criticou decisões do governo federal e acusou Lula de prejudicar setores produtivos.
Com Bolsonaro, o movimento é semelhante. Em alguns momentos, Mendes elogiou a franqueza do ex-presidente e reconheceu méritos de sua gestão. Em outros, não poupou críticas ao radicalismo do bolsonarismo e intensificou o distanciamento ao confrontar diretamente Eduardo Bolsonaro, acusando o deputado de “falar bobagens” e “criar confusão”.
Essas alternâncias, que antes pareciam calculadas para preservar liberdade política, hoje cobram um preço alto. O eleitor conservador base essencial de Mauro Mendes vê nas mudanças de discurso uma postura pouco confiável. A sequência de recuos e contradições tem afastado parte desse público, que cobra coerência e firmeza ideológica, especialmente em um estado onde o bolsonarismo sempre teve peso decisivo.
No meio político, cresce a avaliação de que a estratégia de Mendes desidrata sua força na corrida ao Senado. Em vez de ampliar seu alcance, a oscilação tem provocado ruído tanto com setores da direita quanto com aliados que esperavam clareza sobre 2026. A sensação é de que o governador tenta agradar todos os lados e, no processo, perde solidez em ambos.
Com o prazo de desincompatibilização se aproximando, Mauro Mendes terá de abandonar parte da ambiguidade que marcou suas últimas declarações. Até lá, seu discurso segue marcado por elogios e críticas alternadas, negativas e insinuações numa linha cada vez mais tênue entre estratégia e contradição. A dúvida que fica é se ele ainda terá tempo para recuperar o apoio que começa a esfarelar, sobretudo dentro da própria direita, cuja confiança tem sido a mais afetada por sua mudança de tom.

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Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Consultor Político
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"







