Fenômeno incomum foi causado por megatsunami na Groenlândia em setembro de 2023
Por Daniel Trindade 29/09/2024 às 20h00
Um grupo internacional de 68 cientistas conseguiu decifrar a causa de um misterioso tremor que fez a Terra vibrar por 9 dias consecutivos em setembro de 2023. O fenômeno, detectado por sismógrafos em todo o mundo, teve origem em um megatsunami no leste da Groenlândia.
De acordo com estudo publicado na revista Science, o evento começou em 16 de setembro de 2023, às 11h35 no horário local, quando uma avalanche de rocha e gelo despencou no fiorde Dickson. Aproximadamente 25 milhões de metros cúbicos de material – equivalente a 10 vezes o tamanho da Grande Pirâmide de Gizé – caíram a mais de 160 km/h, gerando ondas de até 200 metros de altura.
“É uma loucura. Ninguém tinha visto nada parecido”, afirmou Kristian Svennevig, geólogo do Serviço Geológico da Dinamarca e da Groenlândia e coautor do estudo.
O impacto inicial foi detectado a mais de 3.300 km de distância, na Rússia, por instrumentos de infrassom projetados para identificar testes nucleares clandestinos. No entanto, o mais intrigante foi o que se seguiu: um zumbido sísmico de baixa frequência que persistiu por 9 dias, forte o suficiente para ser detectado globalmente.
Stephen Hicks, sismólogo do University College London, descreveu a anomalia: “Essa coisa estava aparecendo como uma anomalia muito grande, se destacando como dedo machucado”.
A persistência do sinal levou à formação de uma equipe internacional de especialistas de 15 países. Inicialmente, várias hipóteses foram consideradas, desde movimentos glaciais até atividade vulcânica oculta. A Marinha dinamarquesa chegou a inspecionar o fiorde três dias após o evento, mas não encontrou perturbações visíveis.
Após extensas análises e simulações computacionais, os pesquisadores concluíram que o tremor foi causado por uma onda estacionária, conhecida como seicha, oscilando no fiorde. Esta onda, com frequência de 10,88 milihertz, chapinhava os 2,7 km de um lado a outro do fiorde a cada 45 segundos.
Finn Løvholt, pesquisador de tsunamis do Instituto Geotécnico Norueguês, destacou a rápida mobilização da comunidade científica: “Imediatamente, um monte de pesquisadores uniu forças”.
O estudo ressalta como as mudanças climáticas podem gerar efeitos inesperados. O deslizamento que iniciou o megatsunami foi desencadeado pelo derretimento de uma camada de gelo, alertando para a vulnerabilidade de regiões glaciais a eventos extremos.
Embora o fenômeno tenha causado danos estimados em US$ 200 mil em um posto avançado científico e militar na Ilha Ella, a 72 km de distância, felizmente não houve vítimas. O evento, no entanto, destruiu sítios arqueológicos inuítes e armadilhas de caçadores do século 20 ao longo do fiorde.
Ben Fernando, sismólogo da Universidade Johns Hopkins, que não participou do estudo, comentou: “Não sei se alguém já viu algo nem remotamente parecido com isso antes. É um resultado muito legal”.
A descoberta não apenas esclarece um enigma científico, mas também demonstra a importância da colaboração internacional na pesquisa. Como resumiu Svennevig: “Provavelmente foi por isso que muitas dessas pessoas se dedicaram à ciência. Com todos os nossos equipamentos e conhecimentos sofisticados, ainda assim, de vez em quando, descobrimos algo que não sabemos”.
Este evento, embora impressionante, não é um recorde em termos de duração de tremores globais. O terremoto e tsunami de Sumatra-Andaman em 2004 abalaram o planeta por 18 dias, enquanto acredita-se que o impacto do asteroide Chicxulub, há 66 milhões de anos, tenha causado tremores por meses.
A equipe de pesquisadores agora permanecerá atenta a sinais semelhantes em outras regiões glaciais do planeta, buscando antecipar e compreender melhor esses fenômenos potencialmente perigosos em um mundo em rápido aquecimento.
Daniel Trindade
Editor-Chefe do Portal de Notícias
Ativista Social|Jornalista MTB 3354 -MT
Estudante Bacharelado em Sociologia
Defensor da Causa Animal em Sinop -MT
Tutor do Stopa "O Cão Mascote"